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domingo, 28 de novembro de 2010

ESCRAVISMO E FEUDALISMO: A HISTÓRIA DO HOMEM DESTES PERÍODOS POR MEIO DE SUA PRODUÇÃO ECONÔMICA

Para compreender como a sociedade se organiza durante a sucessão dos meios de produção faz-se necessário acessar o conhecimento na fonte, que são os clássicos, obras e documentos escritos na ou durante as lutas que ocorreram e trazem informações balizadas e coerentes. É esse o caso das obras que fundamentam este pequeno trabalho: “Política”, de Aristóteles, é um tratado escrito por um dos maiores gênios da Antiguidade, um homem que foi discípulo de Platão e preceptor de Alexandre Magno; o americano Leo Huberman, autor de “A história da riqueza do homem”, marxista, é referência no campo da historiografia da economia política. São dois livros respeitados pela academia e que, quando constam no referencial teórico de um texto, emprestam-lhe credibilidade e cientificidade. Após a leitura de Huberman (1986) é muito esclarecedora a leitura de “900 textos e documentos de História”, de Gustavo de Freitas, que apresenta fragmentos de documentos medievais como leis, decretos e costumes organizados em categorias que fazem referência à estratificação da sociedade feudal.

Aristóteles (2004), ao longo do livro I, servindo-se do método analítico, parte da origem e desenvolvimento da sociedade escravista, analisa todas as categorias que a compõem: cidadão livre, trabalho, propriedade, riqueza, guerra, mulher, criança e escravo. Começa pela união entre homem (livre) e mulher, diferencia o escravo da mulher, afirmando que “natureza determina a utilidade de cada coisa, e cada instrumento é mais bem-feito quando determinado para atender a uma ação e não a muitas finalidades”.

Segundo o pensador (Aristóteles, 2004, p. 145), a família (propriedades e escravos) é uma associação estabelecida por natureza para atender as necessidades dos homens. Quando as famílias decidem se reunir está formada uma aldeia, que seria a primeira sociedade. Várias aldeias unidas em comunidade auto-suficiente formam a cidade-estado, grega, cuja principal função é assegurar o viver bem para os cidadãos livres; função essa assegurada pelo Estado e administrado pelos homens que, por natureza, são seres políticos e considerados os melhores animais.

Quanto ao trabalho, para os gregos antigos existe grande diferença entre os corpos do escravo e do senhor, tendo concebido uns poucos homens livres e muitos para a escravidão – justa e conveniente (Aristóteles, 2004).

O macedônico Aristóteles (2004, p. 153-154) foi um pensador da nobreza que dedicou tempo, esforço e talento na descrição da sociedade de sua época, onde a nobreza praticava a autoridade e seu conhecimento consistia em saber como usar os escravos, nomeando fiscais enquanto se dedicavam às funções do Estado e à filosofia (ócio).

Diferia entre administração e enriquecimento, sendo o primeiro termo entendido como prover e o segundo como usar. A guerra seria um modo de adquirir propriedade, assim como a subsistência. Um homem rico seria rico quando tivesse uma propriedade com bens úteis disponíveis e armazenados. Chegava a questionar sobre até onde poderia ir a riqueza de um homem, criticando o comércio e que o praticava com lucro, que fez surgir a moeda (Aristóteles, 2004, p. 155-156-157).

A Grécia Antiga e o modo de produção escravista foram suplantados e o mundo viu-se imerso em um novo modo de produção: o feudalismo, no qual a propriedade da terra detinha a primazia da riqueza e o trabalho (do servo) consistia basicamente em cultivar o grão e guardar o rebanho para cultivar a lã. O território europeu foi dividido em feudos, que não passavam de uma aldeia e uma grande extensão de terra que os servos cultivavam em benefício da classe dominante, formada pelos senhores feudais, sempre apoiados pela Igreja, que à época também se apresentava como grande proprietária de terras (Huberman, 1986, p. 2-4).

No feudalismo (ou Idade Média) ainda não haviam se estabelecido os Estados nacionais, como França ou Inglaterra. Nesse período os costumes, tinham força de leis (Huberman, 1986, p. 8). A posse da terra implicava em duros deveres a serem cumpridos.

Fonte de riqueza da época, a terra era cultivada faixas e um terço de sua extensão arável pertencia aos domínios do senhor; o restante ficava em poder dos servos, que trabalhavam penosamente, contemplando primeiramente a terra senhorial, pagando pesadas taxas para beneficiar sua colheita em moinhos e prensas (Huberman, 1986, p. 5). Os servos tinham sua condição e função justificada por meio de dogmas religiosos e costumes que se perpetuavam e não permitiam nenhuma mobilidade social e total submissão à classe senhorial do feudo:

Deus quis que, entre os homens, uns fossem senhores e os outros servos [...] e que os servos estejam obrigados a amar e venerar seu senhor... [...]

A função do servo: <
Huberman (1986, p. 7) esclarece que existiam graus de servidão, que dividiam os trabalhadores em servos de domínio, fronteiriços, aldeães e vilãos, organizados em uma hierarquia de decrescente esforço e obrigação servil.

No período feudal o mundo se resumia à Europa e seu entorno próximo – parte da África e Ásia. As necessidades dos homens não exigiam o uso de dinheiro e a circulação de mercadorias mais elaboradas. O feudo era auto-suficiente e o excedente eram trocados nos mercados semanais mantidos junto a mosteiros e castelos. Porém esse quadro se alterou com o advento das Cruzadas, que materializou os interesses da Igreja, dos nobres e cavaleiros endividados e de cidades como Veneza, Gênova e Pisa, que fervilhavam impulsionadas por uma classe ascendente que iria determinar a derrocada do feudalismo: os comerciantes (Huberman, 1986, p. 17-19).
Por meio de dados e fatos históricos, Huberman comprova que o comércio fez surgir grandes cidades em locais de grande fluxo de mercadores, como o local de encontro duas estradas importantes ou a embocadura de um rio (porto). O cenário medieval começa a modificar quando os comerciantes –burgueses – se uniram e a população da cidade passa a ansiar por liberdade (1986, p. 26-27). Com o passar do tempo, estas associações se tornam monopólios que passam a exercer grande influência junto às autoridades das cidades. Com o comércio em expansão surge a riqueza do dinheiro e a classe média, que se dedicava ativamente à compra e venda de mercadorias que se tornavam cada vez mais essenciais (1986, p. 34-35).

Os comerciantes, combatidos à época de Aristóteles, encontraram com o desenvolvimento do comércio e a ampliação do mundo conhecido as condições para o estabelecimento das bases de uma classe que alcançaria a hegemonia. A burguesia mercantil e depois industrial modificaria o cabedal de crenças, leis, costumes e relações sociais de tal maneira que a sociedade ingressaria em um novo modo de produção, o capitalismo, que passaria a determinar o pensamento dos indivíduos em função do pensar da classe hegemônica – burguesia –, tornando a luta de classes ainda mais desigual e avassaladora.


Referências:

ARISTÓTELES. Política. São Paulo: ed. Nova Cultural, 2004.
FREITAS, Gustavo. 900 textos e documentos de História. Lisboa: Plátano Editora, s.d.
HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: ed. Guanabara Koogan, 1986.

BREVE HISTÓRICO DO CAPITALISMO: DA LIVRE CONCORRÊNCIA AO IMPERIALISMO DOS CARTÉIS

Superfluidade e anacronismo são apenas das características do sistema de produção material em vigência no atual período da história da humanidade: o capitalismo. Considerando-se todos os campos do conhecimento humano que investigam a gênese, desenvolvimento e derrocada dos modos de produção – sociologia, economia, história, educação, geografia - nenhum outro autor o fez como o alemão Karl Marx (1818-1883). Em escritos compostos com grande rigor científico, tornou explícita a realidade de sistemas baseados na exploração da classe menos favorecida, uma luta encarniçada entre as classes e a ascendência da produção material da sociedade sobre o pensar e agir dos seus indivíduos. Vladimir Ilitch Lênin (1870-1924), teórico da Revolução Russa de 1917, foi um grande estudioso do marxismo já em uma fase mais amadurecida e em escala mundial.

Para os marxistas, o homem é (con)formado de acordo com os ditames do modo de produção de mercadorias, serviços e necessidades, pela escola, cultura e sociedade civil e política, instituições superestruturais determinadas pela infra-estrutura econômica. As ideologias colocam-se a serviço da infra-estrutura, que intermediando o pensamento dos homens visando resigná-los às situações de exploração desmedida. Na verdade e em todos os tempos, este pensamento sempre correspondeu ao pensamento da classe dominante. No caso da atualidade, o pensamento da burguesia; a burguesia atual em muito difere daquela que, nos idos do século XIX, logrou êxito em estabelecer as bases da hegemonia que ora presenciamos, conforme podemos ler em Huberman (1986).

As lutas de classe sempre existiram em todos os modos de produção que a humanidade já experienciou: entre escravizados e aristocratas rurais na antiguidade (Grécia e Roma são exemplos); servos e senhores feudais na Idade Média; e mais atualmente, proletariado e capitalistas. Sobre a veracidade e gravidade de tal luta, lê-se no clássico “Manifesto do partido comunista” que:

A história de toda sociedade até os nossos dias é a história da luta de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre e oficial, em suma, opressores e oprimidos sempre estiveram em constante oposição; empenhados numa luta sem trégua, ora velada, ora aberta, luta que a cada etapa conduzia a uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou ao aniquilamento das duas classes em confronto. MARX, (2001, p. 23-24)


No intuito de explicar com propriedade a relação existente entre as classes do modo de produção do nosso tempo, recorreu-se a Huberman (1986, p. 157), renomado historiador americano de linha marxista, que esclarece que o capitalista é o dono dos meios de produção – fábricas, estradas, meios de transporte, armazenadores – e o único em condições de adquirir a força de trabalho de seu empregado.

Em sua época, Adam Smith (2001) criticou o preço, a inacessibilidade e a qualidade das mercadorias fornecidas à população. Segundo o economista político inglês, as corporações (monopólios pós-feudais) desencorajam a indústria e o aprimoramento das artes. Os comerciantes mantinham o preço alto porque sabem que ninguém pode vender mais barato. Como detém exclusividade, não se importam com a qualidade. Considerava os privilégios nocivos às corporações. Se houvesse uma única corporação em cada lugar os lucros seriam imensos. Porém existiam várias corporações que vendiam caro porque compravam caro, impedindo o acesso ao mercado daqueles que comerciam. Por certo, se o comércio fosse livre os preços cairiam.

Lênin (2002, p. 12-15) destaca como duas características do capitalismo: o enorme incremento da indústria e a rápida concentração da produção em empresas cada vez maiores, valendo-se da análise das indústrias alemãs e americanas no início do século (1882 e 1907). Cita inclusive que certo tipo, a combinação, ou seja, reunião numa só empresa de diferentes ramos da indústria, que garante à empresa uma taxa de lucro mais estável. Cada vez é maior o número de estabelecimentos que se agrupam em empresas gigantescas, apoiadas e dirigidas por meia dúzia de bancos. Critica o economista burguês consciente, que na Alemanha recorre ao protecionismo com altas taxas alfandegárias e na Inglaterra ao igualmente nocivo monopólio.
Nos princípios do século XX surge um novo capitalismo, tendo os cartéis como base da vida econômica. A história dos monopólios pode ser assim resumida: 1) décadas de 1860 e 1870 – grau superior da livre concorrência; 2) depois da crise de 1873 – longo período de desenvolvimento dos cartéis, fenômeno passageiro, ainda; 3) fins do século XIX e crise de 1900 a 1903 – cartéis (LENIN, 2002, p. 16). Então o capitalismo tornou-se imperialismo, estabelecendo entre si acordos, repartindo mercados, fixando a quantidade de produtos a ser fabricados, estabelecendo preços de venda e distribuindo o lucro. A produção é socializada, assim como as invenções e os aperfeiçoamentos técnicos (tecnologia, maquinaria, ciência), mas a apropriação continua privada, para um número reduzido de indivíduos. Monopolizam-se também a mão-de-obra qualificada, as vias e meios de comunicação.

Segundo Lênin (2002, p. 21), o desenvolvimento do capitalismo chegou a um ponto tal que, ainda que a produção mercantil continue reinando como antes, na realidade encontra-se já minada e os lucros principais vão parar nas mãos dos ‘gênios’ das maquinações financeiras. O imenso progresso da humanidade beneficia os especuladores. A indústria de transformação de matérias-primas alcança lucros elevados e adquire uma relação de dominação sobre as outras empresas, algo que não existia sob a livre concorrência. Nesta fase, os bancos exercem papel fundamental: são os intermediários nos pagamentos, convertendo capital inativo em ativo, que rende lucro. Com o aumento das transações bancárias, passam de intermediários a monopolistas onipotentes que dispõem de quase todo capital-dinheiro, bem como dos meios de produção e das fontes de matérias-primas.

Logo os grandes bancos absorvem diretamente os pequenos e os capitalistas dispersos acabam por constituir um capitalismo coletivo. Ao movimentar contas correntes de vários capitalistas o banco pode realizar operações gigantescas – um punhado de capitalistas subordina as operações comerciais de toda a sociedade capitalista – passa a conhecer com exatidão a situação de todos eles e depois passa a controlá-los – exercer influência através da ampliação ou redução do crédito – passa a decidir inteiramente seu destino (LENIN, 2002, p 24).

O velho capitalismo, o capitalismo da livre concorrência, tinha como seu regulador indispensável, a Bolsa. O novo capitalismo representa uma mistura da livre concorrência com o monopólio. Com o aumento da concentração dos bancos – restringe o círculo de instituições para buscar crédito, o que aumenta a dependência da grande indústria a um reduzido número de bancos, que se desenvolvem de acordo com os ditames dos monopólios. Desenvolve-se a união dos bancos com as maiores empresas industriais e comerciais, fusões realizadas mediante posse de ações, participação de diretores de bancos em conselhos de empresas e vice-versa. Os grandes monopólios vão-se desenvolvendo, se aperfeiçoando, estabelecendo uma divisão do trabalho entre os reis financeiros da sociedade capitalista atual (LENIN, 2001, p. 31-33).

Lênin (2002, p. 37-38) afirma que a democratização da posse das ações (democratização do capital) nada mais é que um meio de reforçar o poder da oligarquia financeira. O sistema de participação não serve só para aumentar em proporções gigantescas o poderio dos capitalistas, permitindo também operações financeiras sujas, pois as empresas-mãe não respondem pelas empresas-filhas, que possuem independência. Nas páginas 41 e 42 da mesma obra é possível entender que o capital financeiro, concentrado em muito poucas mãos e gozando de monopólio efetivo, obtém lucro enorme, que aumenta sem cessar com a constituição de sociedades, emissão de valores e empréstimos do Estado. Os lucros excepcionais proporcionados pela emissão de valores contribuem muito para o desenvolvimento e consolidação da oligarquia financeira (nenhuma operação bancária produz tanto lucro!). Se os lucros do capital financeiro são desmedidos durante o período de ascenso industrial, durante os períodos de depressão arruinaram-se as pequenas empresas, enquanto os grandes bancos participam na aquisição das mesmas a baixo preço, no seu lucrativo saneamento e reorganização.

É próprio do capitalismo separar a propriedade do capital da aplicação à produção. O imperialismo, ou domínio do capital financeiro, é o capitalismo no seu grau superior, em que essa separação adquire proporções imensas. O predomínio do capital financeiro implica o predomínio do rentier e da oligarquia financeira (LENIN, 2002, p. 45).

Para Lenin, a principal característica do velho capitalismo era a exportação de mercadorias. Já a versão moderna – o monopólio – tem como característica a exportação de capitais. O desenvolvimento desigual e a subalimentação das massas são as condições e premissas básicas, inevitáveis, deste modo de produção. O capital é exportado para os países mais atrasados, onde o lucro é elevado, os capitais escassos, o preço da terra e os salários baixos e as matérias- primas baratas. Ocorre a exportação de capitais porque em alguns países o capitalismo amadureceu excessivamente e o capital carece de campo para sua colocação lucrativa. A exportação de capitais repercute-se no desenvolvimento do capitalismo dentro dos países em que são investidos, acelerando-o extraordinariamente, podendo estagnar os países exportadores, mas representando um desenvolvimento do capitalismo no mundo inteiro (2002, p. 45-48).
Para Lênin (2002, p. 51), como no sentido moderno da globalização, o capital financeiro estende suas redes em todos os países do mundo, com apoio dos bancos instalados nas colônias (e sucursais). Os países exportadores de capitais dividiram o mundo entre si. O capital financeiro também conduziu a partilha direta do mundo. As associações monopolistas capitalistas partilham entre si, em primeiro lugar, o mercado interno, apoderando-se completamente da produção do país. Mercado interno e externo estão entrelaçados. O capitalismo criou um mercado mundial. Com o aumento da exportação de capital foram criados acordos internacionais e constituídos cartéis internacionais (supermonopólios). Não chega a ser perversidade, mas porque o grau de concentração os obriga a este caminho para obterem lucros. Repartem-no segundo a força (econômica) de cada um e continuaram a fazê-lo enquanto houver sobrevida ao sistema ou os homens e mulheres conscientizarem-se que o sistema capitalista desumaniza as relações e que o conhecimento científico pode (deve) agir como catalisador dessas relações des(humanas).


REFERÊNCIAS:

HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: ed. Guanabara Koogan, 1986.
LENIN, Vladimir Ilitch. O imperialismo: fase superior do capitalismo. São Paulo: Centauro, 2002. Tradução Silvio Donizete Chagas.
MARX, K. ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Rio de Janeiro: Contraponto. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1998.
SMITH, Adam. Sobre as corporações. Curitiba: Segesta, 2001.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Um filme sobre a Índia que a novela da Globo não mostra!

Esse menino tem uma grande vontade de estudar! Concordam?

Colegas, professores e amigos!

O professor Aroldo Alcantara de Paula Souza é delegado da ACP na Conferência Estadual de Educação, que será realizada em setembro ou outubro próximos. Enviem para o e-mail aroldoalcantaradepaulasouza@gmail.com sugestões para a conferência.

Na conferência intermunicipal defendi a seguinte proposta no eixo III (Acesso, permanência e sucesso):
Para a garantia do acesso, da permanência e do sucesso escolar as iniciativas pública e privada devem assegurar, custear e apoiar a formação continuada de professores em nível lato e stricto sensu.

Aristóteles de Estagira

A partir do século IX a.C., tem início para a Grécia Antiga um importante período de sua história: as comunidades aldeãs dos tempos homéricos (1200 a 800 a.C.) cedem lugar a unidades políticas maiores, sempre formadas em torno de uma acrópole (parte mais elevada da cidade grega – a mais célebre foi a de Atenas, onde foi erigido o Parthenon). São as cidades-estado: Tebas, Megana, Corinto, Mileto e, as mais importantes, Atenas e Esparta. As cidades-estado variavam muito em área, costumes e população, tendo passado para a história como o berço da democracia e da filosofia do mundo ocidental.
Nesta sociedade grega conviviam diferentes grupos sociais: os artesãos, os trabalhadores liberais (como os médicos), os pequenos proprietários e os não-proprietários, além de escravos, aprisionados por guerra ou dívida, que tinham sua força de trabalho utilizada em lavouras, oficinas artesanais e afazeres domésticos. O trabalho escravo permitiu aos cidadãos mais ricos liberarem-se do trabalho produtivo, tendo sua condição privilegiada determinada pela extensão de suas propriedades e pela quantidade de escravos que dispunham.
Algumas inovações surgidas entre os séculos VIII e VI a.C. ajudaram a mudar a visão que o homem grego tinha de si mesmo e do mundo: com a escrita, a moeda, as leis escritas e exercendo a cidadania na Pólis, o homem avançou de uma consciência mítica - importante, pois representou a exploração inicial de um vasto mundo desconhecido - para uma consciência filosófica, que alcançou seu apogeu, junto com a própria civilização grega, no período denominado Clássico, compreendido entre os séculos V e IV a.C.
Expoente do período Clássico, Aristóteles foi o pensador grego que mais fortemente influenciou a civilização ocidental. Suas pesquisas em lógica, ética, política e ciências não sofreram maiores contestações até meados do século XVII. O sábio grego nasce em Estagira, na Macedônia, em 384 a.C., sendo seu pai médico do rei Amyntas, sucessor de Felipe II e Alexandre Magno. Em 367 a.C. viaja até Atenas, uma cidade já consagrada como o centro mundial do conhecimento, inscrevendo-se na célebre Academia de Platão, que se encontrava ausente, buscando implantar, sem sucesso, suas idéias na Síracusa, onde o novo tirano, Dionísio II, havia ascendido ao poder. Na Academia, a figura principal era o matemático e astrônomo Eudoxo de Cnido. Um ano depois, Platão retorna fatigado de sua jornada e é então apresentado ao seu novo discípulo. Aristóteles permanece aí cerca de vinte anos e encontro em Platão, cinqüenta anos mais velho, um incomparável professor.
Em 317 a.C. morre Platão, e Aristóteles, terrivelmente decepcionado por não ter sido escolhido pelo mestre para a direção da Academia, deixa Atenas e parte em direção a Assos, atual Turquia, onde permanece até 344 a.C., na corte de Hérmias, ex-integrante da Academia, até o assassinato deste tirano. Por dois anos permanece em Mitilene, até que em 343 a.C. é convocado à corte de Felipe II, em Pela, com a missão de tornar-se o preceptor de Alexandre, então com treze anos.
Em 388 a.C., na Batalha de Queróneia, as cidades-estado são derrotadas pelas tropas macedônicas e chega ao fim a autonomia grega. Toda a Grécia encontrava-se unida, infelizmente, em correntes, sob o julgo de Felipe II. Inicia-se um novo período na história grega: a helenização do mundo “bárbaro”. Dominada territorialmente pela Macedônia e depois por Roma, a Grécia terá suas fronteiras aviltadas e seus conhecimentos comporão o pensamento e a vida das futuras sociedades européias, influenciando de sobremaneira todo o pensamento ocidental. Aristóteles nunca concordou com a helenização mundial imposta por Alexandre, não aceitando a fusão da civilização grega com a oriental (bárbara) por acreditar que povos tão distintos entre si nunca poderiam compor um mesmo regime político.
No ano de 366 a.C. Felipe II é assassinado e Alexandre torna-se rei, dando continuidade à expansão de um dos maiores impérios da antiguidade, conquistando a Ásia Menor, Fenícia, Egito, Babilônia e parte da Índia. Junto com o domínio militar macedônico avança também a cultura grega. Em 335 a.C. Aristóteles retorna a Atenas e funda o Liceu. Suas aulas, como era usual na época, ocorriam em meio a caminhadas, onde seus discípulos – os peripatéticos, que significa em grego “os que passeiam” – gozavam do ócio para desenvolverem um saber essencialmente contemplativo. O Liceu tornou-se um centro de estudos dedicado às ciências naturais, alcançando grandes êxitos no campo da biologia. Após a morte de Alexandre, Aristóteles passou a ser hostilizado pelos atenienses, em razão de ser ele um estrangeiro e um colaborador do dominador macedônico, sendo acusado de impiedade e tendo de fugir para Cálcis, onde morre, em 322 a.C.

O mito de Édipo segundo Sófocles



Segundo a mitologia grega, Édipo é filho de Laio e Jocasta, reis da cidade-estado grega Tebas. Conforme o costume da época, Laio consulta um oráculo, que lhe prediz que não deve ter filhos com a rainha Jocasta e caso os tenha, seu filho o assassinará e desposará a própria mãe – parricídio e incesto, dois crimes tidos como hediondos para os gregos. Nasce Édipo e o medo da previsão faz com que o rei ordene ao servo que leve o menino à floresta e o mate, amarrando-o com um fio trespassado por orifícios feitos nos tornozelos – daí o nome Édipo, que em grego significa “aquele que tem os pés inchados”, na verdade, feridos pela produção dos orifícios. O servo se compadece do menino e o entrega a outro servo, que pertence ao reino vizinho. O menino é adotado pelo rei e rainha deste reino e cresce. Agora é Édipo quem visita o oráculo e ouve seu horrível destino: matar o pai e desposar a mãe. Foge desesperado e em viagem, esbarra na comitiva do rei Laio, seu pai verdadeiro. Combate-o e mata-o. Já se cumpriu a primeira parte da profecia. Ao chegar a Tebas, vê a cidade atormentada por um monstro mitológico, a esfinge, uma espécie de leão que, às portas da cidade, aborda os viajantes e lhes propõe um enigma. Édipo é submetido à seguinte pergunta: “qual criatura tem quatro pés na manhã, dois à tarde e três à noite?”. Com inteligência, Édipo responde que é o homem, pois de manhã – infância – engatinha enquanto bebê. À tarde – vida adulta – apenas dois, pois caminha ereto sobre as pernas apenas. À noite – velhice – adota um terceiro membro, na verdade, uma bengala que serve de apoio às pernas cansadas pela idade. A esfinge se lança num penhasco e morre e a cidade é libertada pelo “herói”, que é entronizado e recebe de Creonte, irmão da rainha, a honra de casar-se com Jocasta e reinar sobre a cidade-estado. Cumprida na totalidade a profecia.

Édipo tem quatro filhos com Jocasta – entre eles Antígona, outra fonte de inspiração para Sófocles – e administra bem a cidade até que uma peste assola a cidade e o rei Édipo envia seu agora cunhado, Creonte, ao oráculo, que vaticina que a peste só será debelada após o assassino do rei Laio for encontrado e punido. É justamente aí que tem início a obra sofocliana Édipo Rei.

Creonte traz a noticia que o assassino encontra-se inserido em pleno reino e que o sábio cego Tirésias sabe a resposta do enigma que atormenta o Rei. Tem início uma completa investigação criminal que culmina com o inevitável: Édipo conscientiza-se e pune a si mesmo, perfurando seus olhos e exilando-se em companhia das filhas Ismênia e Antígona para a região de Colono, próximo a Atenas – aqui a gênese da terceira obra da trilogia sofocliana: Édipo em Colono, seguida por Antígona. A rainha Jocasta suicida-se e Creonte passa o poder aos dois filhos de Édipo que, mais tarde, se matarão na disputa pelo poder.

Sófocles, originalmente, não criou a lenda do Édipo Rei. Essa lenda foi transmitida de geração para geração desde os tempos imemoriáveis, por meio de transmissão oral. O trágico grego tampouco foi o único a escrever sobre o atormentado rei tebano. O mito foi a primeira explicação que o homem compõe sobre um mundo desconhecido e perigoso. A visão mítica serviu de preâmbulo à racionalidade grega, que evoluiu ao pensamento cientifico do homem moderno.

PENSAMENTO DOS GREGOS ANTIGOS

Foram os sofistas os principais responsáveis pela democratização da educação na Grécia Antiga, apesar de se dedicarem, quase que exclusivamente, do ensino de retórica. Seus alunos eram oriundos de outras classes sociais, já que a aristocracia dispunha de um ensino preceptorial.
A educação grega – a Paidéia ou uma ação recíproca entre o processo histórico pelo qual se chegou à formação do homem grego e o processo espiritual através do qual os Gregos lograram elaborar o seu ideal de humanidade - prestava-se à formação do cidadão-livre, que deveria administrar e defender a cidade com justiça e virtude.
Jeanne Claude Mossé, renomada filósofa francesa que esteve no Brasil em 1988, nos apresenta em sua obra O processo de Sócrates (1990, Jorge Zahar Editor) uma valiosa citação de Crítias – sofista e tio de Platão:

“Houve uma época em que a vida do homem era desordenada e controlada pela força bruta (...), assim como a dos animais selvagens. Não havia então nem recompensa para os bons, nem punição para os maus. Depois, os homens conceberam a idéia de impor leis como instrumento de punição, a fim de que a justiça fosse à única vencedora e derrotasse a violência. Se alguém cometia um erro, era punido. Mas como as leis somente puniam os atos de violência declarada, os homens continuaram a cometer seus crimes em segredo. Então acredito que um homem decidido e enxergando longe percebeu a necessidade de um preventivo que desse resultado, mesmo quando meditássemos ou executássemos ações escondidas. Assim foi introduzida a idéia de divindade, de um deus sempre ativo e vigoroso, ouvindo e vendo em espírito tudo o que fazem ou dizem os homens. Tal foi, portanto, a origem da crença nos deuses e da obediências às leis.”

Aristóteles, tal como os filósofos da época, era um sábio, dotado de conhecimentos de diversas áreas: história, ética, biologia, medicina e até gramática. Escreveu uma obra sobre a gramática e lingüística de seu tempo intitulada Poética ou Arte Poética. Nela, descreve minuciosamente as definições de todos os gêneros lingüísticos existentes: comédia, mito, peripércia, e muitos outros, incluindo a tragédia grega:
É pois a tragédia imitação de uma ação de caráter elevado, completa e de certa extensão, em linguagem ornamentada. (...) Se efetua não por narrativa, mas mediante atores. (...) O espetáculo cênico é uma das partes da tragédia. (...) São seis as suas partes: mito, caráter, elocução, pensamento, espetáculo e elopéia.
O helenista alemão Werner Jaeger, autor do clássico Paidéia (1986, Ed. UNB/Martins Fontes) preconiza que a tragédia grega reveste-se, para o homem grego do século V a.C., em instituição normativa. O espetáculo teatral possuía considerável poder educativo. Sófocles aceitou, com plena consciência, o papel de sucessor de Ésquilo, sendo este considerado pelos atenienses um herói e venerável mestre. A concepção grega de poesia não se apoiava na individualidade, mas na perpetuação de uma arte que se transmitia de um poeta para o outro. Um pensamento do célebre Isócrates atesta esta mais esta particularidade dos gregos antigos: “Não é no que se faz pela primeira vez, mas na mais perfeita realização de uma arte que se observa a originalidade”.

Sófocles-rei


Pertencente à aristocracia – era filho de um rico fabricante de armas – Sófocles destacou-se como um dos maiores trágicos gregos, ao lado de Eurípides e Ésquilo, nasceu na localidade de Colona, próximo a Atenas, em 495 a.C. e faleceu em 405 a.C. Foi contemporâneo de Ésquilo (525–456 a.C.), Sócrates (469–369 a.C.). Viveu, portanto, 90 anos, em pleno século de ouro da Grécia, ao longo dos quais escreveu mais de 100 obras. Apenas sete alcançaram nossos dias na íntegra: Ájax, As Traquínas, Filoctetes, Electra e a trilogia sofocliana: Édipo Rei, Antígona e Édipo em Colono.

A Pólis - cidade-estado grega - era a unidade político-administrativa do mundo grego do tempo de Sófocles. Não haviam ainda países como concebemos atualmente. Cada cidade compunha seu conjunto de leis e, mesmo quando alinhadas em ligas ou confederações, mantinha independência uma em relação às outras.

As cidades gregas do período eram construídas ao redor de um acidente geográfico denominado acrópole. Tratava-se de um pequeno planalto, situado a aproximadamente 50 metros acima do nível da cidade, sobre o qual eram edificados edifícios públicos, em geral templos religiosos. A mais célebre acrópole é a de Atenas, sobre a qual foi construído o Parthenon.

A sociedade destinada a administrar e defender a cidade antiga grega era composta por uma base populacional composta de cidadãos livres, metecos (estrangeiros dedicados ao comércio), mulheres e crianças, além de grande contingente de escravos. O cidadão livre, único segmento da sociedade com direito a voto nas plenárias que tinha lugar na praça central – a Agora. Tratava-se de um indivíduo isento da atividade produtiva, dedicado ao ócio graças à mão-de-obra escrava, gerada por meio de guerras, endividamento ou nascimento.

Apoiando a ruptura do pensamento humano com o mito, a racionalidade lança as bases da filosofia grega, que é inspiradora e matriz do pensamento da civilização européia moderna (ocidental, portanto!).

O século em que viveu Sófocles, V a.C., é denominado pelos pesquisadores como o século de ouro da sociedade grega e a filosofia classifica o período como “socrático”, pois nele viveu o maior filósofo grego: Sócrates, que teve como discípulo Platão, responsável por registrar em suas obras, na maioria diálogos, a existência e o conhecimento produzido pelo ilustre pensador.

O capítulo XIV da obra História da Grécia de Mario Curtis Giordani, editado em 1967 pela Editora Vozes, compõe com muita propriedade um retrato sobre a riqueza e a imortalidade da literatura grega e nos apresenta a péssima noticia de que a grande maioria das obras perdeu-se ao longo do movimento da história. Seus escritos apresentam íntima ligação com a cultura ocidental e são fartamente estudados e utilizados ao longo de diferentes períodos da história. Pensadores das mais diversas origens debruçaram-se sobre tais obras para comporem, a partir delas, seus próprios escritos. Agostinho, Tomás de Aquino, Comênio, Rousseau, Locke, Boécio, Averróis e outros notáveis fundamentaram suas criações a partir das leituras dos gregos de todos os períodos: pré-socráticos, socráticos e helenísticos. O pensamento de Sócrates pode até ter representado uma divisão da linha temporal grega, mas nos períodos anteriores e posteriores existiram intelectuais da mais brilhante estipe, como Parmênides, Heráclito, Protágoras e Epicuro.

A leitura de clássicos do teatro grego como Medeia, Antígona ou Édipo-Rei expõe um conjunto de qualidades admiráveis da literatura grega do período: originalidade, beleza, desembaraçamento e musicalidade. Estes textos gregos foram escritos no dialeto jônico-ático, que foi a língua dos poetas e filósofos de Atenas, e impressos em papiros, com uma escrita pessoal, distinta da caligráfica, da cursiva ou da administrativa, destinadas aos negócios, da justiça e da administração da polis, executadas por escribas profissionais.

A literatura grega é dividida em três períodos: pré-Ático ou jônico, das origens ao século V a.C.; Ático ou ateniense, do século V a.C. ao ano de 320 a.C. – nesse período surgem a tragédia, a comédia e o teatro; helenístico, estende-se até Roma.

Tal como o estádio, onde se realizavam os esportes olímpicos, toda cidade grega possuía um teatro, onde as peças eram encenadas para o público. Esta atividade cultural grega nasce a partir dos cultos dionisíacos (religiosos, portanto). Os espetáculos eram financiados pelo Estado e as peças eram julgadas por comissões que conferiam prêmios aos melhores espetáculos. Ésquilo, Sófocles e Eurípides foram os trágicos mais premiados da Grécia Antiga.

Os espetáculos teatrais eram elementos importantes da cultura geral grega e só eram apreciados por uma elite aristocrática.

Peças como Prometeu Acorrentado, Édipo - Rei e Medeia adquiriram um caráter universal e foram encenadas inúmeras vezes em palcos de todo o mundo.

Leia um artigo sobre os textos clássicos!

Foi publicado no site da UFSCAR um artigo sobre os textos clássicos. Leia na íntegra em http://www.reveduc.ufscar.br/index.php?option=com_content&task=view&id=69&Itemid=51 ou clique no título.
Resumo:

A leitura de textos clássicos no curso de pedagogia da UNAES foi o tema de uma pesquisa monográfica em 2007. Foi empreendida uma investigação sobre a instituição, o curso e sua biblioteca. Através da análise das ementas, grades e registro do acervo ficou constatado que a desvalorização do texto clássico não é um fenômeno restrito à sala de aula e que, duas disciplinas constituem-se como exceções em meio à regra geral: utilização de manuais didáticos, trechos de dissertações e fotocópias de capítulos de livros contemporâneos. Discurso, prática e linha de pensamento dos professores das disciplinas pesquisadas foram analisados com o objetivo de demonstrar que a vertente marxista “ciência da história” pressupõe uma didática baseada na cientificidade histórica comum aos textos clássicos.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Clássicos para teatro

PROFESSORES: Leiam um clássico para teatro em PDF!
O MAIS IMPORTANTE É A BUSCA PELA VALORIZAÇÃO DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO. UM TRABALHO DIDÁTICO EFICIENTE NÃO PRECISA SER SIMPLIFICADO AO EXTREMO.

PROFESSOR E PESQUISADOR DE TEXTOS CLÁSSICOS

Aroldo Alcantara de Paula Souza é Professor do Ensino Fundamental na Escola Municipal de Tempo Integral Ana Lucia de Oliveira Batista (Bairro Paulo Coelho Machado). Licenciado em Pedagogia, com habilitação em Magistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental e Administração Escolar. Formou-se na UNAES - CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CAMPO GRANDE, situada em Campo Grande-MS, em Agosto de 2007.